Células-tronco são usadas para tratar doenças em equinos
RODEIOS
Publicado em 16/12/2019

As células-tronco são base para pesquisas importantes da medicina humana e podem curar ou reconstruir partes de tecidos de órgãos, nervos, ossos, coração. E elas também podem curar animais. Cientistas estão fazendo estudos de ponta que usam essas células para tratar doenças de cavalos.

Quisling e Bamba foram diagnosticados com bambeira. Comanche, com uma fratura grave, com múltiplos fragmentos. Dama teve um tendão lesionado. Os quatro cavalos têm histórias diferentes, mas que se juntam em um mesmo desfecho: eles fazem parte de um pequeno grupo que passou por terapias com células-tronco no Brasil.

As células-tronco existem nos embriões, antes da formação dos fetos, e também em animais adultos, onde há estoques para a renovação natural do corpo. São células bem novas, que ainda não ganharam missão específica para virar, por exemplo, ossos, músculos, órgãos do corpo. Por isso, elas podem atuar em todo o organismo.

A pesquisadora Ana Liz Garcia Alves estuda células-tronco na faculdade de medicina veterinária da Unesp, em Botucatu, no interior de São Paulo, há 14 anos. "A célula-tronco melhora muito a qualidade de reparação da lesão", diz.

Para que a pesquisa seja feita, a universidade precisa de casos práticos e cavalos de proprietários privados participam do estudo.

Há várias fontes de células-tronco. As adultas, usadas na pesquisa, não vêm dos embriões. Podem ser retiradas da gordura acumulada na garupa, abaixo da pele, por exemplo, ou da medula óssea (ou tutano), líquido que fica dentro dos ossos do cavalo.

No laboratório, essas células-tronco são separadas das células comuns e multiplicadas. "Um pequeno fragmento de gordura, a gente consegue expandir em 20, 30 milhões de células", diz Alice Maciel, veterinária e mestranda da Unesp.

O material já pronto é conservado a temperaturas baixíssimas, de onde só sai para ser aplicado em cavalos dentes.

Fraturas

Na ortopedia, as células-tronco são usadas nas fraturas e para tratar tendinites, osteoartrites e artrites dos equinos.

Comanche teve uma fratura grave, em múltiplos fragmentos. Além da cirurgia para a colocação de pinos e imobilização, ele recebeu células tronco no ponto da fratura. Ele se recupera bem e já está em casa.

Fertilidade

Outra frente de pesquisa avança na área reprodutiva, para o tratamento da endometrite, uma infecção que ataca o útero e pode levar à infertilidade.

"Nós escolhemos um grupo de éguas que tinham um problema de fertilidade grave, que já não gestavam, não produziam embrião, a maioria delas era doadora de embriões", conta o veterinário Marco Antonio Alvarenga.

As células são aplicadas na parede do útero. Segundo o doutor Marco Antonio, das 15 éguas tratadas com a tecnologia, 6 voltaram a ter a função uterina e ficaram praticamente curadas da infecção e 8 retomaram a ter capacidade de produzir embriões.

Essa aplicação ainda é feita exclusivamente na universidade por conta da técnica, que requer equipamentos caros. Mas a terapia celular avança no mercado.

Quando começou a ser usada comercialmente, há pouco mais de uma década, a célula precisava vir do próprio animal que seria tratado. Só que, de lá para cá, os cientistas descobriram que não havia rejeição entre indivíduos da mesma espécie. Isso permitiu a criação de bancos de células-tronco, o que facilitou muito o acesso a esse tipo de serviço.

Hoje, o Brasil tem 7 bancos de célula tronco privados, a maioria para pequenos animais, como cachorros e gatos. Mas o mercado dos grandes existe e atende, principalmente, cavalos de competição.

Lesões 

Égua quarto de milha, Dama é atleta e faz prova de 3 tambores. Segundo o cavaleiro Rodrigo Papadopoli, é uma das melhores que ele já teve. Ela tem rompimento de fibra no tendão, problema de atleta, e está sendo tratada em Tietê, no interior de São Paulo.

Dama vai receber uma aplicação de células-tronco na lesão. O procedimento custa cerca de R$ 2,5 mil. Enquanto a égua é sedada por um veterinário, outros descongelam as células, que vieram de um banco privado na região de Campinas.

Fonte: MEIO RURAL

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