Criador de cavalo Crioulo há 13 anos, com o afixo Curandeiro, o músico bageense Lisandro Amaral é um dos nomes mais renomados da cultura nativista do Rio Grande do Sul. Além da arte, ele tem uma rotina que inclui a doma de seus animais, o que lhe inspirou a inscrever-se em provas da modalidade, mas, para o ciclo 2020, a novidade é outra: o Freio do Proprietário.
O interesse por correr a prova voltada a ginetes não profissionais partiu de sua experiência nas competições de doma. A possibilidade de poder correr com um cavalo com mais idade e com maior tempo de treinamento, lhe chamou atenção. Assim, decidiu organizar-se para apresentar sua marca. “É uma prova de pessoas que provavelmente pensam da mesma maneira, que têm um criatório, que têm o fundamento principal de promover o lazer para o criador. Creio que esse é o objetivo básico da prova do proprietário: o criador se divertir com o que ele mesmo cria”, diz.
Estreia será em Candiota
Amaral irá estrear na modalidade na Cabanha Beribá, no município de Candiota, entre os dias 14 e 15 de fevereiro. A programação era estrear em Bagé, no último final de semana, mas sentiu que o conjunto a ser apresentado não estava na melhor forma. Agora, com data definida para entrar em pista, ele é grato pela liberdade de escolha de cidades que a prova proporciona. Ansioso e trabalhando diariamente por mais alguns dias, ele sente prazer em treinar o próprio animal, e alega que a atividade lhe proporciona um ensino mútuo.
Sua “curandeira”
A companheira de pista de Lisandro Amaral é Curandeira Guaycuru, linhagem de Santa Elba Sinuelo, filha de Firmeza 1786 e Huaman Baluarte. O proprietário olha com carinho para a história do pai da picaça - sua mãe foi a única a receber produto do garanhão, que morreu logo em seguida. “Escolhi esta potra porque ela me deixa errar devido seu comportamento, mansidão e habilidades. Às vezes, erramos juntos, nos corrigimos juntos. É interessantíssima a minha ligação com esse animal”, relata, ressaltando que deposita na fêmea sua confiança quando a família ou amigos querem montar em um de seus animais.
Chance à raça Crioula
Anos antes de criar seu afixo Curandeira, Lisandro trocou com um amigo uma égua sem registro por uma potra Crioula resenhada. “Essa potra me fez prestar mais atenção nos detalhes da raça, tanto morfológicos quanto nas atividades funcionais”, conta. Através de conversas e por influência positiva de ter sido casado com uma veterinária, foi entendendo fundamentalmente o esporte que se derivou das funções do cavalo de serviço. Percebeu que ali existia muita manifestação cultural, interação, além de um mercado forte. Assim, sentiu-se mais confortável em criar animais da raça Crioula que outros sem registros.
É fundamental para um criador acompanhar o que está acontecendo dentro da raça, seja no time das linhagens funcionais ou no das morfológicas. O músico se enquadra mais no primeiro segmento. Sempre ativo, ele acompanha as provas e participa das transmissões ao vivo via internet, enviando mensagens e interagindo. Para ele, acompanhar os movimentos dos animais que estão em evidência é importante para ficar por dentro até mesmo daqueles que não aparecem na lista dos principais cavalos. “Creio que esse movimento, esse comportamento de doma, de treinamento, é fundamental para saber que dose daquela linhagem tu vais querer usar no teu criatório”, explica.
Quando questionado sobre sua relação com as pistas competitivas, Lisandro foi enfático: “Pista, para mim, é andar a cavalo”. Confortável em camperear e juntar gado, ele vê nas pistas um espírito competitivo, tão natural quanto o futebol. “Não me valeria nada ganhar um freio de ouro profissional se meus filhos não pudessem andar no meu animal, nessa égua preta que vou apresentar”, enfatiza.
FONTE : FOLHA DO SUL